01/06/2014

{{: rodoviárias e leitos brancos

Quando você me abraçou caiu a última árvore viva dentro de mim. 

Tombou. Bateu em meu chão e rachou esta terra sertanejamente 

paulista. Levantou rachaduras, poeira e sede. Encostei-me em teu 

peito nada forte e me senti ainda mais fraca e louca, porém, 

protegida durante uma hora. Não queria dizer nada, mas, queria que 

você soubesse como o sabem as paredes de minha casa do 

desespero e da libertação sideral dos músculos em meus ossos. 

Ficamos na rodoviária mesmo, sentados em silêncio olhando os 

ônibus nunca chegarem e nunca irem, a pedido meu. “- Uma 

passagem para algum lugar de soltar pipa, por favor? Não temos 

senhora. Temos somente para o desespero. - Tô de buenas.” 

Acendo um cigarro imaginário de arco-íris. Queimando arco-íris até 

a última ponta. Estava instaurado meu surto, que poderia ser tanto 

em um hospital psiquiátrico, como, em uma rodoviária. Você com os 

olhos de alguém muito sábio em relação a tudo aquilo que se 

passava em meu coração e, por isso mesmo, de mãos vazias. 

Olhava- me com comoção e gosto pelo tamanho de minha coragem. Sim, 

disse-me que eu era coisa muito estranha e especial, e que ninguém 

podia fazer nada em relação a isso. Eu ri, porque você não sabe 

fazer elogios... ou dizer que ama. Você também tem sua maldição 

resplandecente. Aquela árvore enorme tombada em meu peito. 

Falta de ar. Galhos arranhando por dentro. O constante barulho de 

folhas verdes morrendo. O barulho do verde ficando marron. “As 

cascas das árvores crescem no escuro”. O que fazer depois daquele 

lapso poético? O que você sugeriria? É tudo tão irrisório e 

profundo. Mas, existe ainda mais amor. Talvez um amor açougueiro 

e posto em pedaços numa vitrine cheia de gordura e sangue velho. 

No entanto, ainda amor. A última árvore tombou. Por enquanto, ela 

é maior que eu, arrasta-se para além de mim. Estou com as raízes 

para fora. Raízes aéreas. Todo peso pode virar esterco e húmus, 

neste caso. Esperemos. Hora de despedir-se. Um abraço, um estou 

contigo, uma companhia desinteressada, um ônibus para dentro de 

mim e minha bela floresta de uma árvore só. Tombadas.

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