06/07/2015

"Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;
E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza."
Charles Baudelaire - Flores do Mal

87% da população brasileira a favor da redução da maioridade penal.
celebração de casamento gay, por todo tipo de gente no facebook, sendo zuada pelos próprios gays e gente que se considera "pensante".
a vida sendo vista do ponto de vista do estilhaço.
acho que uma reconsideração profunda daquilo que defendemos vai dar num diálogo esquizofrênico, absurdamente solitário, feito de milhões de pontos de vista sem conexão humana efetiva.
o que eu digo não interessa ao outro.
o que o outro diz, não me move, genuinamente.
provavelmente, se nos ouvíssemos pra valer, sentiríamos terror e pânico diante do outro e de nós mesmos.
essa insanidade de ter opinião sobre tudo e escutar o que se quer,
de alguma forma, acaba por nos proteger do horror que estamos.
parece uma realidade cruel,
mas, é só a realidade.
sem verdades e sem alvos.
no entanto, sempre, feita de horizonte e experiências.
neste sentido,
aceitar nossa pulverização afetiva urbana,
já é uma forma de olhar pra ela de frente e reconhecer nossos mil pedaços numa multiplicidade repetitiva, monótona e previsível.
o que isso tem de bom?
sair da ilha da fantasia e encarar que as opiniões que emitimos são cachorros abandonados acolhidos por donos, também abandonados.
encarar a morbidez daquilo que diz respeito a todos, sem precisar de subterfúgios pra isso. sem precisar enfeitar, nem tampouco, desistir.
e se for pra ditar receitas, opiniões ou afins, que elas tenham coragem e perspicácia de misturar coisas inusitadas: egoísmo e beleza, companhia e distância, mentira e profundidade, política e amor, assimilando assim, o sentimento de caos e pulverização contemporâneo.
ainda que alguns refugiam-se em sua arte, seu filho, sua família, sua religião, seu partido, isto tudo se dá no mundo. e o mundo mano, sempre vai engolir aqueles que não tiverem uma guela bem enlarguecida, pela qual passa tudo, e que engula ele antes.
nada de colar ou organizar nossos caros estilhaços,
quebremo-os ainda mais,
pó voa com a brisa,
já estilhaços, precisam de perigosos furacões para se moverem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

molhem o orquídea...