sem dor nem dó
os raios de sol
fazem o parto da manhã
a despeito de qualquer guerra assassinato amazônia incinerada estupro fome
a rebentação das horas
lava o céu com a glória e os matizes delicados do universo que recomeça
formigas escovam os dentes seres humanos vão ao trabalho
baratas adormecem homens abrem seus laptops
prostitutas ajeitam seus lençóis limpos donas de casa esticam suas mangueiras
crianças sonolentas coloquem uniformes bêbados adormecem sob as marquises
sem dor nem dó
cachorros espreguiçam-se conforme podem em suas coleiras
gatos lambem as patas diante do blindex
e toda luz matinal, pura como a esperança genuína
adentra nos olhos do que enxergam e dos que não enxergam
sem dor nem dó
as nuvens vão sendo trespassadas por mais um dia
iluminadas por dentro para que possam gerar tempestades inundações encher bueiros imundos
sem dor nem dó
o asfalto começa a se aquecer, lentamente
sem dor nem dó
os matinhos esticam suas pontas
numa dança ereta que baila com a brisa do novo dia
sem dor nem dó
os doentes quem vai se suicidar as mulheres que vão parir as vacas que vão parir os homens que vão abandonar os bebês os corruptos e os padres na primeira missa
todos
ganham este novo dia.
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molhem o orquídea...