16/10/2025

sem dor nem dó

os raios de sol

fazem o parto da manhã 

a despeito de qualquer guerra assassinato amazônia incinerada estupro fome

a rebentação das horas 

lava o céu com a glória e os matizes delicados do universo que recomeça

formigas escovam os dentes seres humanos vão ao trabalho

baratas adormecem homens abrem seus laptops

prostitutas ajeitam seus lençóis limpos donas de casa esticam suas mangueiras

crianças sonolentas coloquem uniformes bêbados adormecem sob as marquises

sem dor nem dó

cachorros espreguiçam-se conforme podem em suas coleiras

gatos lambem as patas diante do blindex

e toda luz matinal, pura como a esperança genuína

adentra nos olhos do que enxergam e dos que não enxergam

sem dor nem dó

as nuvens vão sendo trespassadas por mais um dia

iluminadas por dentro para que possam gerar tempestades inundações encher bueiros imundos

sem dor nem dó

o asfalto começa a se aquecer, lentamente

sem dor nem dó 

os matinhos esticam suas pontas

numa dança ereta que baila com a brisa do novo dia

sem dor nem dó 

os doentes quem vai se suicidar as mulheres que vão parir as vacas que vão parir os homens que vão abandonar os bebês os corruptos e os padres na primeira missa

todos

ganham este novo dia. 

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