Texto dramático : intimi-doidos
Ele sentando em uma cadeira com as calças abaixadas, como se
estivesse no banheiro. Virado para a direita do palco.
Foco de luz somente nele
Depois, foco de luz na Maíra
Maíra: o que você quer?
Ele: não se lembra, acabei de pedir!
Maíra: esqueci....!
Ele: o papel higiênico Maíra
Maíra: unh... onde está?
Ele: não tem
Maíra: e agora?
Ele: agora você tem que comprar
Ela pega algumas moedas e vira de costas, dá quatro passos e
pára
Retira-se o foco de luz da Maíra
Ele sentado diz: não vou socar a minha mão ainda mais na
merda por conta dessa mulher. É por conta dela que os armários estão vazios. O
gás acabou mais cedo. E a luz vai ser cortada.
Atriz: Acendem-se todas as luzes do palco ela vira de frente,
pega um pedaço de papel higiênico, segura nas mãos e diz:
-As relações tem um jeito bizarro de se tornarem intímas... o
cheiro da dor de barriga das coisas que
ela sabe que ele comeu ontem, a indiscreta falta de papel higiênico
compartilhada, o banheiro seboso com o suor dos dois, coisas particulares
boiando entre os dois... tudo por conta dela.
Volta para o lugar ainda com todas as luzes acesas
Maíra: Cheguei, toma o papel
Ele: obrigada
Maíra: ficou faltando umas moedas, depois tem q levar.
comprei papel um macio.
Ele: ta, ta bom....
Maíra: você ta bem?
Luz Vermelha:
Ele vai até a frente do palco. Ela vai junto. Ela abaixa as
calças dele, limpa sua bunda e diz:
Atriz: Isso é o amor Maíra? O papel não é macio. Mas, pra ela
é...sempre é. E ele, contrariado, acredita e sente, só maciez...
Som de descarga.
Texto
narrativo: o tio do mercadinho
O homem do mercadinho que vendeu o papel higiênico.
A Maíra é realmente espetacular! Nossa, minha
mulher não pode escutar isso! Tranquilo, ela não ta na platéia mesmo. Espera!
Procura a mulher na platéia. Pergunta pra alguma mulher: você não é minha
mulher não né??? Certeza? (desconfiado) Ahhh tá... Achei legal o diretor
perguntar meu ponto de vista sobre a Maíra... quer dizer, ele disse... disse...
como é mesmo...? Primeira impressão. Já soltei: gostosa. Coisa de homem. Ela é
dessas que vem com dinheiro faltando e você acha bom, porque vai ter que voltar
pra trazer o resto. Eu vejo os dois sempre juntos agora. Simpática ela...
menina simpática. O cara não. É meio fechadão e anda encabulado. Acho que tá
ferrado. Apaixonado. Ela sobre e desce a rua com uns vestidinhos soltos que faz
a gente só pensar besteira. E para um homem conviver com isso é uma tortura... Resumindo:
a Maíra é dessas mulheres que fazem a gente achar que o mundo tem solução, que
a fatura das cervejas não vai vencer, que ninguém vai te pedir fiado, que a
carne vai baixar de preço, que todos os papeis higiênicos são macios...
Obrigado viu gente pela oportunidade... esse
negócio de teatro é legal mesmo.
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